
Além das queixas relacionadas aos comportamentos de filhos e alunos adolescentes, existem também as dúvidas sobre como lidar com eles de forma eficiente e menos conturbada.
Sempre afirmo ao trabalhar com famílias onde existem adolescentes, que nesta fase a família ganha um "novo membro", um filho novo, diferente, que já não é mais criança e ainda não é adulto, assim a família precisa se reinventar e encontrar novas formas de convivência, que possam ser acolhedoras, respeitando as diferenças entre os membros e sempre estimulando o diálogo. E se a família ganha um novo membro, esse adolescente também ganha uma nova família, que muitas vezes o estigmatiza, coisas do tipo "agora temos um aborrescente em casa" são muito comuns, e são causadoras de sofrimento para o jovem que vivencia os desafios desta fase. Além disso, o adolescente "ganha" um novo corpo, novo gosto musical, novas amizades, novos interesses..."Então, existe alguém novo dentro de mim, e eu não sei o que fazer com isso" (fala de um adolescente, apenas para ilustrar a angustia que pode ser experimentada nesta fase).
Uma autora escreve muito bem sobre adolescência, e escreveu em um de seus livros: "Na adolescência, a tarefa dos filhos é se diferenciar do ninho e construir uma identidade própria. Os pais procuram aquele filho que estava sempre por perto, afável, e encontram tudo mudado: a porta do quarto trancada, som em volume alto, cara amarrada" (Myrian Bove Fernandes em Clínica Gestáltica com Adolescentes, 2013).
É exatamente isso, nessa fase as coisas mudam, as pessoas envolvidas nesse processo mudam, é preciso compreender que o filho não será sempre criança, e para se tornar um adulto precisará viver a adolescência. A convivência familiar, tanto nesta fase como em todas as outras, deve ser regada de presença e participação dos pais, além de incentivo, encorajamento, muito diálogo e uma dose de proteção, para que os jovens possam assumir com segurança caminhos de responsabilidade, com orientação e carinho dos pais e professores.
Para uma convivência harmoniosa, um dos passos importantes é compreender, tanto a família, educadores como os adolescentes, que existe ai visões de mundo diferentes, permeadas por experiências diferentes, gerações diferentes em um tempo social e histórico diferente. Certamente o adolescente de hoje, não é o mesmo de vinte ou trinta anos atras. Sem ter consciência desta diferenciação, os adultos sofrem tentando compreender porque com seus filhos ou alunos é tudo tão diferente do que foi em seu tempo. Tanto as pessoas como a educação acompanham e são diretamente influenciadas pelas mudanças do tempo e da sociedade, por isso sempre enfatizo, é preciso se reinventar, não dá pra ficar sempre contando a historinha do Chapeuzinho Vermelho e acreditar que seu filho vai achar legal!
Outra conduta legal é mostrar para os filhos ou alunos, que os problemas ou conflitos que surgem em nossa trajetória, todos tem "solução" ou pelo menos uma forma mais harmoniosa de conviver com estes incômodos, não devemos dramatizar os acontecimentos e dar enfase para as intrigas entre amigos, fofocas, enfim, uma opção legal é apenas estar do lado deles conscientizando-os com tranquilidade e sabedoria. E não poderia deixar de mencionar como é importante o encorajamento nesta fase, encorajá-los a se expressar, a resolver seus conflitos, a superar seus medos, a fazer escolhas...Isso é fundamental!
Vale lembrar que cobranças e exigências devem ser ponderadas, afinal, se temos 17 anos é esperado agirmos com alguém de 17 anos e não alguém de 30, certo?!
E sobre o papel do psicólogo, penso que é no sentido de favorecer o crescimento pessoal dos membros da família, auxiliar a família a cultivar a união o diálogo e criar hábitos para tornar a convivência mais positiva e enriquecedora nesse momento do ciclo vital. Esta ai mais um beneficio da terapia :)
Boa Leitura! Espero que possam fazer suas reflexões!
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